Como mandar currículos para vagas de Jornalismo

(Atualizado em 13/04/2016)

Como jornalista há quase 20 anos, semanalmente recebo muitos currículos e vejo que muitos ficam perdidos ao entrar em contato com um possível empregador. Pra isso escrevi algumas dicas de como um estudante ou recém-formado em Jornalismo deve mandar um currículo. Vamos lá:

1) Uma empresa de Comunicação (redação, agência ou assessoria) dificilmente é formal como um escritório de advocacia ou uma repartição pública. Então esqueça formalidades como: “envio por meio desta missiva o meu curriculum vitae para vossa apreciação”. Com tanta pompa, só faltaram as letras góticas e o mata-borrão, né? Seja educado mas seja mais informal: “Olá, tudo bem? Vi o seu anúncio na internet e estou enviando o meu currículo e portfólio pra concorrer à vaga”. Simples assim. Atenção: não é porque pode ser informal que precisa esculachar e usar vc e pq. E dependendo do veículo, o uso moderado de emoticons pode ser simpático. ;-)

2) Pesquise sobre a empresa para a qual você está mandando currículo. Por exemplo: se a vaga é para Trip Editora não fale como se fosse para a Trip Linhas Aéreas pois já pega mal logo de cara (pois é, já aconteceu isso em um currículo que recebi quando eu era editora dos sites da Trip e Tpm). Quem não consegue entender nem um simples anúncio de emprego, piorou uma pauta complexa.

3) Você pode até enviar o currículo em doc ou pdf, mas não esqueça de enviá-lo também no corpo do texto pois às vezes o empregador não tem tempo pra abrir todos os arquivos. Um perfil no Linkedin bem completo e atualizado também é prático e bacana. Peça recomendações para colegas com quem você já tenha trabalhado ou estudado, somente pra elesJunto com o currículo faça uma breve apresentação de suas habilidades e experiência, como se fosse um resumo de seu CV.

4) Mesmo que sua praia não seja o jornalismo em internet, mostrar-se conectado é essencial. Se você não gosta de Twitter ou Facebook mantenha pelo menos um Medium, blog ou Tumblr como seu portfólio. Se você estiver concorrendo a vagas em jornalismo em internet ou mídias sociais é até desnecessário dizer que quanto mais conectado e atualizado você estiver, melhor. Por incrível que pareça, já recebi currículos para mídias sociais onde o candidato não estava em nenhuma rede social. Por outro lado, é preciso tomar cuidado com o que você posta em suas redes pois hoje em dia tudo é avaliado. Se está procurando trabalho em uma empresa mais formal evite tuitar coisas como “odeio acordar cedo” ou “quero matar meu chefe”. Se está concorrendo a uma vaga em uma empresa que promova e respeite a diversidade fazer comentários preconceituosos pode queimar o seu filme.

5) Você pode fazer o portfólio com os seus textos mais relevantes no Blogger, WordPress, Medium, Tumblr ou em portfólios virtuais como o Pressfolios ou Contently. Se você é estagiário ou recém-formado e ainda não tem muito material, publique seus melhores textos da época da faculdade, o seu TCC ou escreva resenhas ou artigos sobre assuntos em voga. Se possível peça pra algum colega mais experiente dar uma revisada. Veja aqui bons exemplos de portfólios de jornalistas. 

6) A primeira coisa que um jornalista deve ler em uma revista, jornal ou site é o Expediente. É lá que a gente fica sabendo se aquele antigo colega de trabalho ou professor virou editor e pode futuramente te descolar uma vaga. Mas atenção: fazer networking é diferente de fazer a íntima. Faça seus contatos mas não force a intimidade. Pode até dar certo, mas muitos outros percebem e começam a te evitar.

7) Não faça spam de currículo, mandando-o aleatoriamente pra centenas de e-mails em cópia (em cópia aberta, pior ainda!). Se você quer mandar CVs sem um anúncio específico escreva os e-mails um por um, com o nome do editor e falando por que você gostaria de trabalhar naquela empresa e o que teria a acrescentar. E nunca ligue pra saber se receberam o seu currículo, muito menos apareça na redação sem avisar. Você pode pegar um editor tenso em fechamento e queimar o seu filme por um bom tempo.

8) Impressione pela sua competência e disposição. O mercado é cruel, infelizmente nem todo mundo tem empatia e dificilmente vão te empregar por ter ficado com pena por você ser recém-formado, por ter que pagar aluguel ou a escola dos filhos. Em vez de “meu sonho é trabalhar na sua revista” ou “estou desesperada e imploro por uma chance” prefira “admiro a linha editorial da revista e tenho muito a oferecer com a minha experiência”.

9) Um bom modo de fazer contato com editores é oferecer pautas ou textos prontos de acordo com o perfil do veículo. Ou seja, não ofereça pautas sobre consumo de luxo pra uma revista com um perfil mais descolado. Às vezes pode valer a pena ceder no início de carreira cobrando valores baixos ou até de forma gratuita pois ajuda a formar seu portfólio ou até render uma vaga no futuro. Essa é uma questão polêmica e vai de cada um se sujeitar a isso ou não. Eu mesma já fiz alguns trabalhos de graça que me renderam projeção profissional e também já contratei repórteres ou colunistas que começaram colaborando. O Buzzfeed faz muito isso com sua comunidade. Coloque na balança os prós e os contras e veja se vale a pena ou não para você.

10) Para ficar sabendo de vagas e freelas, fique de olho em comunidades virtuais como a Entusiastas – Empresas e Profissionais, Jornalistas Freelas, Garotas no Poder (só para mulheres), Vagas para Jornalistas; blogs/sites como o Novo em Folha, Comunica Vagas, InfoJobs, Trampos, perfis de Twitter como o @socialtrampos e na própria busca de vagas do Linkedin. E os sites de grandes veículos de comunicação geralmente têm um Trabalhe Conosco ou Vagas em algum canto. Para quem pretende ingressar no serviço público, fique de olho no blog Jornalistas Concurseiros. Ao entrar em uma comunidade virtual não esqueça de se apresentar e de colocar o link do seu blog, portfólio ou Linkedin. Muito cuidado com o Português nessas horas pois essa mensagem é a sua primeira impressão para um monte de desconhecidos.

11) Outra ótima forma de entrar no mercado de trabalho é fazer cursos para estagiários ou trainees dos grandes meios de comunicação. Foi com o curso de Focas do Estadão que entrei no mercado de trabalho de São Paulo. Folha,  Abril, TV Globo , Editora Globo e InfoGlobo também mantém cursos e programas de estágio. O processo de seleção costuma ser difícil, na maioria você tem que parar de trabalhar pra fazer e fica sem um tostão pra nada, mas vale a pena arriscar.

12) Amplie seu repertório e área de atuação. Jornalismo musical é uma área na qual grande parte dos estudantes quer entrar porém hoje em dia o mercado editorial brasileiro conta com pouquíssimo espaço para isso. Várias redações estão enxugando suas equipes, então se você se restringir a uma editoria só pode ficar mais tempo sem trabalho. Não tenha medo das áreas de comunicação empresarial, assessoria de imprensa, terceiro setor e redação de conteúdo para agências. Você pode atuar em algo que não havia planejado para garantir o seu fixo do mês e manter um blog de uma área na qual você é especializado para manter seu nome em evidência na área da qual você gosta. Quem sabe ele não possa crescer e virar o seu principal um dia?

13) Crie suas próprias oportunidades de trabalho. Se você tiver um perfil mais organizado pra trabalhar por conta própria pode permanecer como freela. Se você não sabe quanto cobrar consulte colegas ou comunidades virtuais ou as tabelas do sindicato dos jornalistas (em qualquer Estado) com preços de referência. Outra ideia é oferecer para microempresas/eventos/festivais pacotes de assessoria de imprensa e/ou de conteúdo digital. Uma época na qual eu estava desempregada ofereci serviço de assessoria para bandas e selos independentes e acabei descobrindo um novo caminho para minha carreira, até então focada somente em Jornalismo de redação. Como assessora cheguei a trabalhar em gravadoras major e depois em casas noturnas e restaurantes. Em 20 anos de carreira posso até ter ficado sem emprego fixo mas jamais fiquei sem trabalho pois sempre me atirei sem medo e enxerguei várias oportunidades. Hoje em dia estou em uma nova fase e direcionando minha vida profissional para outra área, a de Eventos, mas me sinto feliz profissionalmente tanto em redação quanto em conteúdo ou assessoria de imprensa. A versatilidade acabou me ajudando bastante nisso.

O mercado de Comunicação não está fácil hoje em dia mas geralmente quem é de humanas.doc gosta muito da área e provavelmente não saberá fazer outra coisa. É o meu caso! ;-) Mas não desanime, olhe para frente e amplie suas ideias. Espero que essas dicas ajudem pelo menos um pouco. Boa sorte!

 
Saiba mais:
 

O que eu fiz/escrevi no blog na época do 11 de setembro de 2001


Na época eu trabalhava na Soluziona.com, empresa de internet que ficava no Cenesp. Ninguém trabalhou direito no dia, claro, mas fiz uma cobertura intensiva por este blog, que mantenho desde outubro de 2000. Lembro que o Uol saiu inteirinho do ar e vários sites ficaram extremamente lentos e colocaram versões light no ar. E que o iG havia programado justo pra 11/09/01 um “Dia da Boa Notícia”, obviamente logo abortado.

Também acompanhava as notícias pelo blog do Cris Dias, que na época morava em NY, e por um blog chamado Gringolândia, de uma garota chamada Deborah (não lembro o sobrenome, se alguém lembrar, por favor, coloque nos comentários).

O legal de nunca ter saído do Blogger é que tenho todos os arquivos do blog da época. Separei aqui os posts. O curioso é que vários eram bem breves, no estilo Twitter. Também é interessante relembrar a ingenuidade dos meus 24 anos. :-)

11/09/2001

12/09/01

13/09

14/09

15/09

19/09

20/09

21/09

25/09

E você, o que fazia na época? Se ainda estava na escola, por favor, não humilhe! ;-))

"Nem Vem Que Nao Tem – A Vida E O Veneno De Wilson Simonal"

Se tenho um orgulho em minha vida profissional é ter feito parte da equipe de divulgação do documentário “Simonal – Ninguém Sabe O Duro Que Dei”. Tive sorte de trabalhar com várias coisas que amo mas esse tem um sabor todo especial pois trata-se do digno resgate do artista que aprendi a gostar desde pequena por causa de minha mãe.

Em mais um trabalho lançado neste “Ano Simonal”, agora é a vez da biografia escrita pelo Ricardo Alexandre, um de meus ídolos no jornalismo musical, e que, coincidentemente, também divide comigo a mesma paixão pelo Ronnie Von. Gentilmente ele cedeu a belíssima introdução do livro para eu postar neste humilde blog, trecho bem significativo pois quase nomeou o trabalho, que acabou levando o nome de “Nem Vem Que Não Tem – A Vida E O Veneno De Wilson Simonal”.

O livro vai ser lançado oficialmente neste dia 23 de outubro e já está em pré-venda na Cultura, Saraiva, Siciliano e Submarino. Também será possível comprá-lo em um stand que a Globo Livros monta no Sesc Pinheiros no final de semana em homenagem ao cantor que começa amanhã e vai até o domingo. Segue abaixo a introdução:

Este homem é um Simonal

Em meados de 1969, ao longo de várias semanas, a lendária revista Realidade destacou um de seus melhores repórteres, Mylton Severiano, para acompanhar o dia a dia do cantor Wilson Simonal. Com belas fotos e textos longos, Severiano registrava o auge do sucesso de um artista, aquele que já fazia tempo era “o maior showman brasileiro”, e cuja estrela não parava de subir. O título da reportagem não poderia ser mais apropriado: “Este homem é um Simonal”.

“Ser um Simonal”, naquele tempo, transmitia imediatamente ao leitor todos os atributos que o personagem da matéria alimentava havia quatro anos. O sucesso monumental, comparável apenas ao de Roberto Carlos; a capacidade aparentemente sem fim de gerar sucessos (“Sá Marina”, “Tributo a Martin Luther King”, “Nem vem que não tem” e, avassalador naquela época, “País tropical”); o famoso suingue, que colocava para dançar numa mesma pista a socialite e sua faxineira; o estilo pessoal, com roupas caras compradas na Dijon e do uísque Royal Salute sem gelo e sem água; a capacidade de comandar a plateia como se fosse seu próprio coral de apoio, tanto em uma boate da moda, em seu programa na TV Record, em teatros ou no Maracanãzinho; sua Mercedes do ano, conversível, vermelha e preta como o Flamengo; o menino pobre de Areia Branca que acabou duetando com Sarah Vaughan e arrancando elogios de Quincy Jones em Paris; o Simonal empresário, que montou seu próprio escritório para ter controle total sobre a sua carreira; a imagem poderosa, capaz de ajudar a vender lubrificantes e formicidas da Shell; o homem negro por quem suspiravam as loiras da alta sociedade. Ou, como resumiu o Jornal do Brasil numa série de seis reportagens biográficas: “Aquele cara que todo mundo queria ser”.

Exatos 30 anos depois, em abril de 1999, Wilson Simonal, magro, frágil e envelhecido, está no fundo de uma pequena casa de shows de São Paulo, o Supremo Musical. Protegido pelas sombras, assiste à apresentação do coletivo Artistas Reunidos, do qual fazem parte seus dois filhos homens, Wilson Simoninha e Max de Castro, então se lançando na carreira artística. Naquele dia, Simonal entrou após o início do show e saiu antes que acabasse. Voltou para o carro chorando, porque achava que não podia cumprimentar os próprios filhos em público ou mesmo ser reconhecido junto deles: tinha medo de que a imagem dos garotos ficasse associada à dele e que isso pudesse arruiná-los.

“Ser um Simonal” tinha um significado muito diferente daquele ano de 1969. Significava ser proscrito do ambiente artístico com força e rancor, como nunca havia acontecido antes – e não voltaria a acontecer. Significava ser indesejado por onde passasse, a ponto de fotógrafos se recusarem a fotografá-lo e outros artistas se negarem a pisar no mesmo palco que ele; ser “exilado em seu próprio país”, como definia; ser um espectro, um fantasma, ter sua contribuição apagada da memória oficial da música brasileira – como se milhões de discos não tivessem sido vendidos, milhões de pessoas não tivessem cantado com ele nos shows, nem o assistido pela televisão. Era sinônimo de alcoolismo, impontualidade, amargor e solidão; significava ser mau pai, mau marido, amigo ingrato; um “crioulo que não soube o seu lugar”. E acima de tudo, e mais certo do que tudo isso junto, significava ser um dedo-duro dos tempos do regime militar, um homem que, não contente com a fama e a fortuna, teve o mau-caratismo de “entregar” colegas artistas para os órgãos de repressão do governo militar, que os torturava e os exilava.

Este livro é fruto de dez anos de pesquisa sobre o que significou “ser um Simonal”, ao longo de 62 anos de vida, para o cidadão Wilson Simonal de Castro e para o Brasil. Ao mesmo tempo, este trabalho tenta desvendar como um país inteiro pôde mudar de opinião tão violentamente sobre um de seus maiores ídolos, baseando-se às vezes em fatos, às vezes em lendas e outras vezes em sentimentos complexos como racismo, paixão e inveja. E, claro, investiga nas cicatrizes da infância, na vida pessoal do adulto e na contextualização histórica de sua música os mistérios que levaram à ascensão e à queda de um artista. Talvez o mais completo, certamente o mais simbólico artista que o Brasil já viu – e que, de repente, não quis mais ver.

Ricardo Alexandre
Setembro de 2009

"Nem Vem Que Nao Tem - A Vida E O Veneno De Wilson Simonal"

Frank Sinatra Has a Cold

A Esquire republicou em seu site a lendária matéria Frank Sinatra Tem um Resfriado, do americano Gay Talese. Esse texto é considerado o “Picasso” do Jornalismo e um dos marcos do chamado New Journalism ou Jornalismo Literário.

O jornalista levou um cano da “Voz”, que tinha pego um simples resfriado, e mesmo assim não desistiu da matéria. Traçou o melhor perfil já feito pelo cantor mesmo sem sua presença, apenas entrevistando as pessoas a sua volta. Clássico é pouco!

Dá pra encontrar esse texto em Português no livro “Fama e Anonimato”, que foi relançado recentemente pela Cia das Letras.